A data de 08 de março é conhecida por ser o dia internacional da mulher, na qual somos lembrados, anualmente, da história de luta que as mulheres têm trilhado até aqui, dos obstáculos superados e daqueles que ainda precisamos transpor.
Esse dia se tornou símbolo de luta, força e sororidade, tendo surgido a partir da constante batalha das mulheres por direitos isonômicos e melhores condições de trabalho, pois enfrentavam cargas exaustivas, sem folgas, recebendo uma contraprestação ínfima pelo labor exercido, além de lidar com a sociedade machista e patriarcal que não lhe garantia acesso às suas necessidades básicas.
O que se espera é que esse marco se torne um dia de alívio e aprendizado, para que as gerações futuras possam ser lembradas das dificuldades já superadas, em uma condição de igualdade e equidade e que a história nunca se repita.
Porém, a realidade brasileira da atualidade está há um longo caminho disso. Sabemos que, em um contexto geral, as condições de trabalho das mulheres melhoraram, contudo, a diferenciação salarial ainda permanece, tal qual atesta pesquisa realizada pelo IBGE¹, que identificou que as mulheres ainda têm renda média 33,5% inferior aos homens. Elas ainda enfrentam dificuldades para compor os cargos de maior poder e representatividade, além da sobrecarga gerada pela tripla jornada.
No ano de 2020, essa situação piorou ainda mais. O cenário pandêmico, que impactou a vida de todos, foi muito mais severo para as mulheres. A já conhecida tripla jornada feminina, de trabalho, afazeres domésticos e o cuidado dos filhos, que antes se dividia em locais e horários distintos se tornou um exercício ininterrupto, pois a pandemia concentrou todas elas em um só ambiente, em tempo integral.
Além disso, segundo a mesma pesquisa do IBGE, já apontada, 7 milhões de mulheres deixaram seus postos de trabalho no início da pandemia, enquanto para os homens esse número foi de 5 milhões. Elas enfrentam também dificuldade em se recolocar no mercado de trabalho, uma vez que as taxas de desemprego feminino seguem aumentando.
É importante lembrar que algumas dessas mulheres são arrimos de suas famílias, muitas são mães solteiras, e passaram a viver em situação de extrema precariedade, sem um trabalho. E como se todas as violências sociais não fossem já suficientes, tantas outras mulheres se tornaram vítimas ou viram a violência doméstica se intensificar nesse período, por estar, integralmente, expostas ao agressor.
Por fim, precisamos nortear nosso olhar às mulheres travestis e transexuais, que já viviam em condições de vulnerabilidade superior às das mulheres cisgênero, e se viram sem nenhum suporte. Sendo ainda mais grave para àquelas que não possuem cadeia de apoio e são obrigadas a trabalhar com a prostituição, pois passaram a não mais poder fazê-lo, vendo seu único meio de sustento se esvair, podendo contar, apenas, com o suporte de ONGs, que intensificaram seus trabalhos nesse momento conturbado.
Os números de assassinatos de mulheres travestis e transexuais é o que mais gera impacto. No ano de 2020 o aumento, em relação a 2019, foi de 30,85%, retratando a realidade alarmante do país que mais mata travestis e transexuais no mundo.
Todos esses dados e fatos reforçam quanto caminho ainda precisamos trilhar nessa jornada pela justiça, para que as mulheres possam ocupar o espaço que lhes é devido. Ora, o dia internacional da mulher não pode ser uma data para perenizar e fazer elogios vazios, é necessário que se confronte a estrutura de uma sociedade que impõe as mulheres uma carga sobre-humana.
Essa luta não pode ser apenas das mulheres, é urgente que a sociedade como um todo entenda às suas atribuições nessa batalha. Todos devem se dispor a cumprir com os seus deveres para evitar a manutenção desse status insustentável e diminuir a carga sobre elas.
É inadiável a movimentação para criação de políticas públicas que deem o suporte econômico para as mulheres cisgênero, travestis e transexuais, que estão desempregadas, para protegê-las de violência doméstica e da violência das ruas, para garantir cargos de trabalho com salários equitativos.
E, para além de atitudes governamentais, a sociedade civil tem que cumprir o seu papel, denunciando toda violência presenciada, empresas que tratem as mulheres de forma diferente nos seus respectivos ambientes de trabalho e criando uma rede de apoio forte para aquelas que precisam.
Nas palavras de Malala Yousafzai, “Não podemos todos ser bem-sucedidos quando metade de nós está restringida”. Não existe sociedade justa, na qual a maior parcela dela é subjugada e oprimida, não se pode aceitar a manutenção dessa sistemática e para que ela mude necessitamos nos mover.
A atribuição de cada individuo é agir no espaço que lhe compete para mudar essa realidade triste e dolorida. Guardemos as flores e os chocolates e passemos a presentear com ações e apoio.
Fontes:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/17270-pnad-continua.html?=&t=o-que-e
https://forumseguranca.org.br/
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/05/violencia-domestica-covid-19-ed03-v2.pdf
http://www.generonumero.media/os-corres-de-uma-mulher-trans-na-pandemia/
https://antrabrasil.org/category/violencia/
[1] Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua
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